quinta-feira, 24 de abril de 2008

uma mulher refletida no lago não existe debaixo dele. nas bonecas sem braços e olhos e em seus cabelos se misturam anéis de plástico. conforme afundo no rio o lugar se torna escuro. um peixe é vermelho escarlate e quando ele me toca fecho meus olhos. meus cabelos estão enfeitados com flores e pérolas gastas. perto da superfície há uma mulher refletida. ela joga flores azuis, afundam devagar comigo. estou nu, nos meus calcanhares há o desenho de asas. respiro sem dificuldade. uma concha destruída tem por dentro a cor negra: é uma tempestade. uma mulher levanta o dedo e põe sobre os lábios. silêncio. conforme afundo a água é apenas mais escura. um peixe com dentes finos como agulhas passa seus dentes sobre minha pele e me enfeita com sua luz azul clara e rosa. meus olhos se transformam. desço ao redor de rochedos transparentes como o vidro. não sei que homem é esse que vem e me venda com um pano branco. me desvendo e estou fundo
nas águas. ele desenhou em minha mão uma estrela. um escorpião caminha em meu corpo, amarro a venda como um cinto. há um narciso amarelo entre meus dedos do pé. o outro pé toca as costas do leviatã. passo por sombras maiores que eu. passo pela carcaça de um carro. lá dentro, um pingente com fotos, não posso vê-las, estão longe. as flores que me seguem estão roxas, apanho com cuidado e as passo no rosto. as pérolas são como uma chuva de estrelas: me passam, caindo, abaixo de mim se confundem com o céu. meus pés tocam o céu. adormeço.

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