segunda-feira, 22 de maio de 2023

meus últimos sonhos eram paisagens de um mundo destruído há anos e suas ruínas estão cobertas de mato, água pingando das vigas, grama na luz. às vezes estou lutando. às vezes estou caminhando nas cidades vazias. sou visitado pelos mortos. muitas vezes sonho com nada. como se eu estivesse dormindo um sono dentro de um sono, distante até dos sonhos. tenho lembrado das vezes que sonhei que fui um bicho, ou das vezes que sonhei que morri. anoto meus sonhos casualmente. revelações em pedacinhos de papel soltos. de noite normalmente é o sono do sono; cansada de invocar imagens, descanso. nos meus sonhos eu sonho que descanso. 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

sonho que nos preparamos para um banho de purificação durante a tarde. eu me demoro, porque o tempo me passa mais lentamente. pico as folhas lentamente em água enquanto as pessoas vão embora, seguindo a ponte sobre o rio. jogo o banho no meu corpo, mas não é um banho de purificação, é apenas um ritual que não me diz nada. digo meu nome secreto por cima das águas do rio, e ele é um sussurro difícil. caio no rio e dentro da água estou sem o peso de camadas de memórias que não dizem nada. é noite.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

sonho como se não me interessasse. como uma peça que não me diz mais respeito, agora os sonhos se apresentam e eu os esqueço. sonho com pessoas que brigam, com palácios distantes, com vilas e deuses, e tudo isso me diz tão pouco que adormeço dentro do sonho, de onde é difícil de se levantar, porque passo por várias camadas de descanso, nas quais sou diferentes pessoas, até que a quentura do sol da manhã me chame o último, pelo nome, e me levanto.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

estou trancado nessa casa. estou exausto o tempo todo. descanso para que eu tenha um tipo de alívio e na hora que for dormir eu consiga fechar os olhos e dormir. quando não estou cansado, invento assombrações. elas rondam a casa e esperam que eu feche os olhos para vir em direção à minha cama para me: esfaquear, esganar, assustar só com sua presença de assombração. fico quieto e nem respiro muito porque quero ouví-las lá fora: assim, em elas existindo, posso ter essa fé imensa que irá movê-las para fora e haverá paz para que eu possa fazer o que quiser: nada. lá fora, as pessoas fazem coisas. amanhã, as coisas viram coisas duplas e talvez tenham espaço que fazem as coisas bonitas. escrevo porque quero voltar a esse estado no qual o nada é incrivelmente satisfatório.
sou lento em tudo. demoro o dia inteiro para lavar a louça e traduzir um texto. descendo de um deus que não vai lutar. eu já vi o mal: ele está nessa sonolência. minhas armas deveriam ser: a delicadeza a sabedoria a paciência.
estou cansado. escrevi isso com uma tinta difícil.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

sonho que moro numa torre prestes a cair. as paredes são de pedra, mas frágeis como biombos. depois sonho que tudo o que foi construído está caindo aos pedaços: as casas abandonadas, o campanário da igreja de pedra escura cai passando por cima de mim e encontro em suas ruínas um cesto de ouro. tudo o que olho se desfaz.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

sonhei no dia de Finados que havia uma pessoa que matava pessoas furando-lhes os olhos, e então a despedaçava, amarrada e viva. tirava os olhos. a língua. o intestino. tirava tudo. e depois costurava tudo de volta.
vi ela fazendo isso duas vezes. na segunda, ele esqueceu alguma coisa, que nem eu nem ela sabemos o que é. e por esse erro, ela foi pega.

também sonhei que uma irmã de santo minha tinha sido julgada injustamente e mandada pra prisão. eu e meu pai, que depois virou outro irmão de santo meu, fomos até lá para salvá-la, enfrentando os policiais com sabres. nesse lugar havia testes nucleares, e de vez em quando havia um clarão. ao final, com meu sabre, depois de matar pessoas - que não sangravam - eu abri uma porta trancada numa cerca que dava para uma floresta pequena. nessa floresta, abri outra porta com cadeado, e saímos desse mundo e voltamos ao tempo de hoje, como se estivéssemos ao mesmo tempo em campinas e são paulo, e fomos levá-la para casa, ela no meu colo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

esse sacrifício de hoje deve satisfazer o Destino por anos, muitos anos.