quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

enxaqueca

na cozinha: as flores estampadas sobem pela tábua de passar e aparecem nos panos de prato secando, nos aventais pendurados, nas roupas que escondem o microondas que virou suporte de grampos: em cima dele moram os potes de azeite vazios e cheios e as plantas que estão descansando e esperando a morte. o tanque está coberto pela porta do freezer que suporta outra flor. o fogão está imundo, uma frigideira suja de carne moída mora nele. o bálsamo está magro e alto. na pia, a louça do almoço se reveza, sempre atrasada, ao lado do filtro pequeno do qual não me desfaço nunca com seu filtro recém-trocado e sua estampa floral… ao lado, mora a tábua de cortar e amassar, o rodo para pia, o grill, o escorredor de pratos vazio. na sala: as flores subiram pela parede, roxas, só se movem com o vento quando o telefone toca, um incenso queimando numa mesinha que parece um altar mas é apenas uma mesa: moedas, óculos de aro grosso e preto, velas, um isqueiro branco. uma samambaia enorme e verde e um pouco seca. a cama coberta de um manto manchado. os fios elétricos e do computador à mostra.  a ventoinha do computador. a luz do aparelho de som. os carros na rua. de longe, as luzes tremem. as contas. as unhas. nem as flores descansam.

Um comentário:

Anônimo disse...

A casa reflete fielmente como estamos nos sentindo intimamente. Já dizia um sábio amigo!